Entrevista a Joni – O rapaz que levou adiante uma grande campanha para ajudar a sua aldeia.
“Fecha a torneira quando lavares os dentes”
MV – Olá Joni. Adorei conhecer a tua história. Gostaria muito de conversar contigo, pode ser?
Joni – Sim, podemos falar.
MV — Agora tens 16 anos, certo?
Joni — Estou quase a fazer 17.
MV — Joni, o que me dizes da tua infância?
Joni — Fui muito feliz.
MV — Acredito, contudo, a tua história fala-nos de momentos difíceis. Ainda te lembras o quanto era pesado carregar um balde de água?
Joni — Se me lembro. Sentia o peso do mundo!
MV — Uau! Nem imagino… tarefa difícil, não?
Joni — A parte de carregar, sim. Mas enquanto íamos a caminho de latas vazias, brincávamos. Essa parte era boa.
MV — Como eram as vossas brincadeiras?
Joni — Estávamos sempre a inventar. Mas em todas fartávamo-nos de correr, ehehehe.
MV — Agora que vieste para a cidade estudar, ainda te encontras com os teus amigos de infância?
Joni — Esses amigos são irmãos para a vida toda. Uns estão aqui a estudar como eu. Outros dedicam-se à nossa aldeia.
MV — Sabemos que a tua mãe tem uma deficiência na perna. Não podia ir ao poço como os outros adultos. Eras tu que ajudavas, certo?
Joni — Na maioria das vezes sim. Mas os vizinhos também ajudavam. Éramos unidos.
MV — É verdade. E tu foste um filho exemplar!
Joni — Isso não sei. Fazia o que podia para ajudar a minha mãe. Ela cuidava da nossa casa e de mim.
MV — Joni, qual foi a sensação que tiveste quando te apercebeste de que havia lugares no mundo onde a água abundava e, por vezes, era esbanjada?
Joni — Fiquei intrigado. Não queria acreditar, porque na altura, nunca tinha visto torneiras numa casa. E não imaginava que cada canto da casa poderia ter uma torneira a funcionar a toda a hora.
MV — Daí quereres ver com os teus próprios olhos, não?
Joni — Sim. Fiquei curioso e ao mesmo tempo queria fazer algo para a minha aldeia. A água fazia muita falta.
MV — Como é que chegaste à ideia de te comunicar através do sonho com o outro lado do mundo?
Joni — Fácil. Ao dormir desprendia-me do corpo e viajava. Isso acontece com todos.
MV — Com todos? Referes-te aos sonhos? Olha que nem toda a gente se lembra dos sonhos.
Joni — É normal. Algumas pessoas têm mais facilidade do que outras.
MV — Foi o teu caso?
Joni — Sim. Era o que acontecia comigo.
MV — Mas deixou de acontecer, não foi?
Joni — Não totalmente. Apenas deixei de ir aos mesmos lugares. Só depois é que compreendi.
MV — Queres explicar?
Joni — O amigo Nelo que eu tanto procurava, faleceu dias depois do nosso encontro. E eu não conseguia entender para onde ele fora depois de falecer. Daí o desencontro.
MV — E tu conseguias mesmo levar os cartazes?
Joni — Eu dormia abraçado aos cartazes e eles iam comigo como se fizessem parte de mim ou como se eu tivesse uma fotocópia.
MV — E isso é possível?
Joni — Ainda não acreditas? Não sabes o que é que aconteceu?
MV — Tens razão. Acredito na tua história. No entanto, parece-me algo extraordinário e difícil de acontecer com outras pessoas.
Joni — Aí está. Acontece muitas vezes, mas as pessoas não querem perceber, ou não ligam nenhuma. Dizem que é invenção.
MV — Tu passaste por isso. Achas que as pessoas da tua aldeia acreditavam em ti. No teu sonho?
Joni — Eu acho que as pessoas acreditavam no meu sonho. Talvez não acreditassem na sua realização. Ah! O meu professor deu-me força para continuar a sonhar.
MV — E tu não perdeste tempo, não foi?
Joni — A vontade de avisar a todos sobre a necessidade de pouparem água, era imensa. Até porque achava que era um exagero deixar a torneira a correr enquanto se faz qualquer coisa.
MV — E ainda achas?
Joni — Mais do que nunca. Sou mais crescido e já percebi que o planeta precisa de pessoas que pensem bem.
MV — O que dirias aos meninos e jovens que irão ouvir ou ler a tua história?
Joni — Para além de pouparem água e fecharem a torneira quando lavarem os dentes, digo para seguirem os seus sonhos. E mais… que nunca se esqueçam de que, o que se faz num lado do planeta, sente-se do outro lado.
MV — Continuas a sonhar, Joni?
Joni — Sim.
MV — Queres partilhar?
Joni — Soube que em certos lugares há meninas que sofrem por serem meninas. Vou lutar para que isso mude.
MV — Através dos sonhos?
Joni — E não só. Estou a estudar. Quero ser como o meu professor. Depois irei a esses lugares dar aulas para que as pessoas mudem de ideias. E vou pedir ajuda.
MV — Ao outro lado do mundo?
Joni — A todo o mundo. Lembrar a todos que em alguns lugares há crianças a sofrer. Isso é mau.
MV — Eu acredito no teu sonho, Joni.
Joni — Obrigado. Ajuda-me a divulgá-lo, pode ser?
MV — Conta comigo, Joni. E neste momento, diz-me o que mais gostarias que acontecesse ao mundo?
Joni — Que o mundo se tornasse leve. Levezinho… para todos.
Manuela Vieira
Manuela Vieira
Escritora, poeta e contadora de histórias.
Adoro voar com as palavras!
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