Despedida

Despedida

Há cinco anos despedi-me do meu pai. Partia para o mundo espiritual.

Há quem diga que as pessoas que morrem continuam vivas em nós. Sobretudo nas lembranças. Lá isso é verdade. Olhamos à volta e tudo nos lembra a presença do ser amado que partiu. No entanto, atrevo-me a dizer mais. Quem partiu, de facto, partiu. O seu corpo físico findou, em pó se transformou. Mas a sua alma continua vida. Viva mesmo. Sem a fantasia de acharmos que se tornou num sopro, numa luz, em algo efémero e radiante.


Não. A certeza que eu tenho é que a vida continua e com ela tudo o que somos: pessoas. Pessoas que sentem, amam, falam, raciocinam e tal como os que ficam, também sentem saudades.


Vou contar-te algo mais. Em vésperas da morte do meu pai, a minha mãe que já tinha falecido em 2013, fazia-se presente na minha casa. Ao longo de uns três meses ela e alguns amigos queridos faziam-nos companhia, auxiliando o meu pai para a partida que se tornava iminente.


Na véspera da sua morte, à noitinha, chamei a médica a casa. Receava que morresse por falta de ar ou algo semelhante. Queria dar-lhe todo o conforto possível.


Após exame demorado, a médica acalmou-me as ânsias, informando que o meu pai, apesar do desgaste dos 95 anos, não mostrava sinais de que a morte estaria tão próxima.

Agradeci e não consegui explicar-me melhor. Não lhe falei das minhas certezas e da forma como me comunicava com os amigos espirituais que nos assistiam. Era escusado dizer alguma coisa. Não havia abertura para tal. Aliás, haverá quem não irá ler esta publicação até o fim.

Não tenciono mudar ou converter ninguém. Apenas partilho algo que sinto ser minha obrigação. Não o fiz antes, pois escrever esta lembrança mexia muito com o meu coração. Agora sinto-me capaz.


No dia seguinte à visita da médica, sentindo mais do que nunca que o meu pai iria falecer, pedi ao seu médico assistente para o internar na clínica. Queria que tivesse acompanhamento nos últimos momentos.


A ambulância veio a casa. Antes de o passarem para a cadeira de transporte, conversei com ele e falamos de Jesus. Lembro-me de dizer: Confio muito em Jesus. Ele abanou a cabeça mostrando que também confiava. O momento era de ternura. Dei-lhe um beijo na testa e ele fez sinal que me queria retribuir. Encostei a face e recebi um beijo. Sorriu e parou de se mexer.


O socorrista quase teve um colapso. Foi tão inesperado que eu mesma o coloquei no chão para lhe ser prestado o socorro devido. O INEM chegou, ligaram as máquinas, mas o meu pai não acordou.


Agradeci toda a ajuda prestada e orei. Agradeci a Deus o Pai que tive, a morte serena e a presença da minha Mãe que o recebia nos braços.


A minha família deslocou-se à Madeira para o enterro. Somos muito unidos. E este seria um momento muito importante. Iríamos orar juntos por aquele Ser maravilhoso que nos educou e nos fez gente.


Tive o abraço de amigos e dos meus colegas que, de alguma forma, são também a minha família. Senti conforto. Gratidão. E sobretudo, senti-me muito consolada pela presença espiritual da minha Mãe.


Manuela Vieira




Manuela Vieira

Escritora, poeta e contadora de histórias.

Adoro voar com as palavras!

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